Análise responde como será a moda do futuro

Análise responde como será a moda do futuro

17.12 2019

Por muito tempo, pensamos no futuro como filmes de sci-fi: carros voadores, viagens espaciais e um melhor amigo robô. Mas, pelos acontecimentos dos últimos dez anos, fica claro que a preocupação número um para a próxima década não é tão científica. É, sim, mais voltada para as pessoas e o planeta onde vivemos.

“A escalada conservadora no mundo deu um senso de urgência à luta por união”, diz Rafael Pavarotti, autor de imagens icônicas no que diz respeito à expressão cultural e à representatividade na moda. “A aceleração tecnológica também trouxe consequências insustentáveis. Filósofos, sociólogos e economistas já apontam para uma era em que a única saída é a de uma volta à natureza”, continua ele.

 

É um pensamento que ecoa em outras mentes criativas. Um dos poucos estilistas negros a integrar o line-up do SPFW, Isaac Silva acredita haver um interesse crescente em marcas que realizam trabalhos sociais e incentivam a inclusão. Vem daí as várias ações sobre diversidade na moda, que começam a ser vistas também fora da passarela.

 

“É uma reestruturação que vem acontecendo da equipe de RH aos cargos de diretoria. Se hoje já vemos isso em marcas como Gucci e Prada, podemos esperar que outras sigamos mesmos passos”, diz. Para Isaac, a era dos excessos, do estilista-estrela e da moda com um único padrão de beleza, ficou para trás.

 

As redes sociais fizeram com que os consumidores assumissem o comando. “Elas fizeram do diálogo entre marcas, publicações e consumidor uma regra. O futuro é trocar com as pessoas”, reflete. “E o que elas mais querem é se ver representadas, de preferência por seus pares, similares ou membros da sua comunidade”, resume.

 

À frente da label Awaytomars, Alfredo Orobio tem pensamento similar. Um dos pilares da marca é a criação colaborativa, em que o consumidor tem voz ativa na produção de cada peça. “Pensávamos que o futuro seria apenas sobre tecidos supertecnológicos. Mas há preocupações mais urgentes, como dar transparência à cadeia produtiva e criar de forma responsável, além de incentivar a inclusão do público no processo.

De 2010 para cá, a moda passou por revoluções em velocidade enorme. Não à toa, uma das principais se chama fast-fashion, que instaurou um novo jeito de vender e consumir moda: de quatro novas coleções por ano, fomos para 52.

 

O nível de produção se elevou muito, e o valor do produto final despencou. O que importava era comprar mais, porém nem sempre melhor. “Este virou um dos principais modelos de negócio da moda”, diz Elosia Artuso, diretora da área de educação do Fashion Revolution, órgão que pede por mudanças nos processos de produção. “Mas escancarou um sistema de trabalho com condições análogas à escravidão e impactos ambientais dessa indústria”, afirma ela.

 

Hoje, movimentos por um modelo sustentável não devem demorar para se tornar regra. Um exemplo é o Fashion Pact, acordo assinado durante reunião do G7 por 56 grandes marcas comprometidas a reduzir os danos de suas ações no planeta. “O consumidor irá reavaliar a forma de comprar: o produto vai durar? Tem qualidade? É sustentável?”, diz Mirela Dufrayer, líder de marketing do WGSN na América Latina.


O que irá acontecer nos próximos dez anos é a pergunta de US$ 1 milhão. Mas, com certeza, há um consenso no inconsciente criativo sobre valores mais humanos e naturais. Como disse Isaac: “Não tem como falarmos em futuro sem cuidar de nós e do planeta”.

 

(Fonte: Revista Vogue Brasil)